"Campanha e suas esquisitices" - LEONARDO LIMA

TEXTO 2 e 3


Júlio Lefol. Julinho Lefol para os seus conterrâneos um solitário cidadão campanhense. Diziam que ele foi casado, mas o conheci solitário, independente e... esquisito!
Professor, homem de muita cultura que através de concurso tornou-se funcionário dos Correios, onde ocupou cargos importantes na administração postal. Pois bem... ele era de uma esquisitisse sem tamanho.
No último dia do ano ele ficava ali na Praça Dom Ferrão bem em frente ao prédio da Companhia Sul Mineira de Eletricidade (hoje prédio da Cemig) esperando pelo gerente José Teodoro. Trazia nas mãos um "Livro Caixa", de capa dura. Pedia ao gerente que lhe entregasse a conta de eletricidade do mês de dezembro para que ele "pudesse escriturá-la" dentro do exercício que estava findando. Por mais que o calmo José Teodoro explicasse a impossibilidade de entregar o documento ele ali permanecia indignado e em grande aflição pois tinha que "fechar o seu ano". Isso mesmo! Ele fazia a escrita de suas receitas e despesas durante todo ano e só festejava o novo ano se o resultado lhe fosse satisfatório! 
E olha, não aceitava qualquer papel, qualquer anotação: tinha que ser em papel timbrado da companhia, carimbado e assinado. E lá ficava o dia inteiro, até que o José Teodoro conseguia, por meio um meio de solvente, apagar o nome de um cliente em uma conta antiga e, cuidadosamente, preenchê-la com o nome do Julio Lefol. Aí sim, ele pagava a conta e levava o "precioso" documento para escriturar em seu "caixa", fechando assim o seu ano financeiro! 
A partir daí o problema era do senhor José Teodoro com a diretoria da Companhia. Essa passou em anos posteriores a enviar a conta do Júlio antecipadamente para evitar o problema que se repetia todo ano!


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Outra do seu Júlio Lefol:
Morava ele em uma casa situada na Rua Silva Lemes, esquina com a Dr. Cesarino. Essa casa, ainda existe e naquela época possuía um enorme terreno todo ele tomado por um parreiral.
Júlio vendia uvas os amigos e meu pai era um deles. Muitas vezes fui com papai comprar as frutinhas gostosas no "seu" Júlio. Era metódico, pois pesava as uvas em uma balança que possuía. Balança antiga, de dois pratos de metal em que o peso ficava num dos pratos e as uvas em outro. Não digo mais nada pois todos devem se lembrar da balança. Pois bem, certo dia papai me levou até lá para comprar a deliciosa fruta. Para a nossa surpresa ele se negou a vendê-las, pois a balança havia se estragado. Meu pai, então, ponderou que as vendesse sem o concurso da balança, calculando o peso com as mãos. 
_ Não, não, Geraldo! Cometeríamos uma grande injustiça, pois um de nós levaria prejuízo! Isso não será correto! Como vou, depois de minha morte, passear no paraíso com o profeta Joel pensando na injustiça que cometi? Não, não! 
E de lá voltamos sem nada trazer. Fiquei muito tempo pensando seriamente no profeta Joel... E nas esquisitices do Sô Julinho...!

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